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Amamentação – Perguntas & Respostas

Entrevista publicada na Revista Portal do Bebé

Até quando deverá uma criança mamar?

A Organização Mundial de Saúde (OMS) sugere que se dê de mamar às crianças pelo menos até aos 2 anos de idade, não havendo no entanto qualquer problema em prolongar a amamentação para além dessa idade.

Concorda com a amamentação tardia? (até aos 7 anos por exemplo?)

Concordo, desde que a mãe e a criança estejam confortáveis e felizes com isso. O único entrave que me ocorre é simplesmente as críticas da sociedade que, não estando familiarizada com este comportamento, tece comentários reprovadores e que podem tornar desconfortáveis e infelizes os elementos desta família.

Porque é importante o aleitamento materno exclusivo até os seis meses?

A importância do aleitamento materno tem sido exaustivamente documentada. Comprova-se cientificamente, sem dúvidas, que o leite materno é o melhor alimento para a criança nos primeiros anos de vida e que deverá portanto ser dado ao bebé de forma exclusiva, sem adição de qualquer outro tipo de alimento, água ou chás, até aos 6 meses de vida, e associado durante os restantes meses com outros alimentos, pelo menos até aos 2 anos (A OMS considera o aleitamento uma das prioridades de saúde ao nível mundial).

Ao mesmo tempo, o efeito protetor do leite materno há muito que é também estudado e está cientificamente comprovado, sabendo-se hoje que, por exemplo, reduz significativamente o risco de asma (efeito protetor que parece persistir pelo menos durante a primeira década de vida) e a incidência de diabetes mellitus tipo I (foi descrito que a exposição precoce ao leite de vaca – ou seja, antes dos 4 meses – aumenta o risco de aparecimento desta doença em 50% e estima-se que 30% dos casos de diabetes mellitus tipo I poderiam ser evitados se 90% das crianças até aos 3 meses não recebessem leite de vaca – relembro que com a crise económica que o nosso país está a atravessar, as mães que não amamentam têm cada vez menos poder de compra para adquirir leite artificial adaptado a recém-nascidos, começando novamente a recorrer ao leite de vaca, com todos os perigos que acarreta para a saúde das crianças).

No entanto, muitos benefícios do leite materno são bem mais evidentes se a amamentação for exclusiva durante os primeiros meses de vida do bebé. Para além da diminuição da prevalência da asma e de diabetes mellitus tipo I, o efeito protetor do leite materno contra diarreias e doenças respiratórias pode diminuir substancialmente quando a criança recebe, para além do leite materno, qualquer outro alimento, incluindo água ou chás:
Estudos científicos realizados no Peru e nas Filipinas mostraram que a prevalência de diarreia dobrava quando água ou chás eram oferecidos às crianças menores do que 6 meses, quando comparadas com crianças que só recebiam leite materno.
No Brasil, um outro estudo revelou um risco de mortalidade infantil por diarreia 14 vezes superior em crianças não amamentadas e 3,6 vezes superior em crianças com aleitamento misto.
Um outro estudo demonstra ainda aumento do tempo de internamento de crianças com pneumonia quando são alimentadas artificialmente ou em regime misto, quando comparadas com crianças com amamentação exclusiva.
Mais recentemente ainda, tem-se associado a introdução precoce da alimentação complementar com o desenvolvimento de doenças atópicas.

Por todas as vantagens citadas, a promoção do aleitamento materno (e, em especial, do aleitamento materno exclusivo) é considerada uma das estratégias de saúde de maior custo-benefício.

Quais são as dúvidas mais frequentes das mães em relação à amamentação?

As mães questionam com frequência:
A qualidade do seu leite: hoje está comprovado cientificamente que não há “leite materno fraco”
 A quantidade do seu leite: apenas algumas mulheres, com problemas de saúde raros, produzem leite em quantidade insuficiente ou nula. Quando a mãe dá à luz um bebé, ela produz sempre leite a mais do que o bebé necessita e só alguns dias após é que o corpo irá reajustar a quantidade de leite às verdadeiras necessidades demonstradas pelo bebé, ou seja, sempre que o bebé mamar mais leite, o corpo materno responderá produzindo mais leite.
  Tempo e duração das mamadas: hoje sabe-se que o bebé deve mamar quanto tempo e sempre que ele quiser, e não com horários e tempos rígidos.

Ainda existem muitos mitos e tabus em relação a dar de mamar?

Sim, principalmente no que diz respeito à influência dos alimentos ingeridos pela mãe na qualidade do leite materno: as hortaliças podem alterar o sabor do leite e causar desconforto e irritabilidade ao bebé? O chocolate vai causar flatulência à criança? O camarão vai causar alergia ao bebé? Os citrinos podem fazer com que a pele do bebé fique amarela? Muitas destas dúvidas assombram as mães, que, ao ouvir esta ou aquela pessoa dizê-lo, ficam com receio de que, qualquer alimento que comam, possa ser nocivo para a sua criança.

Um estudo realizado no Brasil, teve como objectivo conhecer a sua opinião de algumas mães sobre o consumo de alimentos na sua dieta durante o período de amamentação e identificar possíveis restrições alimentares a que se tivessem submetido. Para isso, foram entrevistadas 504 mães, das quais 296 (59%) responderam acreditar que existem alimentos que não devem ingerir no período de lactação. Segundo elas, os principais alimentos a ser evitados seriam: refrigerantes (17%), pimenta (17%), gordura de porco (11%) e bebidas alcoólicas (10%). Os motivos mais referidos para essas restrições alimentares foram: o alimento poder fazer mal à criança (78%), motivos indefinidos (16%), fazer mal à mãe (5%) (Ciampo, 2008).

Como já foi mencionado, hoje sabe-se que o volume de leite materno produzido não está diretamente relacionado com o estado nutricional da mãe, mas com a frequência com que o bebé é amamentado, com a sucção do bebé na mama, com a fase da lactação e a capacidade glandular. De facto, apenas em casos de grande privação alimentar é que o estado nutricional da mãe pode ter efeito adverso sobre o volume de leite produzido (Organização Mundial de Saúde, 1997).

Da mesma forma, a quantidade de líquidos ingeridos pela mãe não tem interferência no volume de leite. É normal que as mulheres sintam mais sede durante o período em que amamentam, mas uma maior ingestão de líquidos não irá fazer com que produzam mais leite (Rubio, 2004), mas apenas que fiquem mais hidratadas.

Tal como referido anteriormente em relação ao volume de leite produzido, também relativamente aos componentes nutricionais do leite materno, pode dizer-se que todas as mães produzem leite com os nutrientes necessários para o seu bebé. Segundo Rubio (2004), as mães bem nutridas são capazes de segregar uma quantidade de leite superior às necessidades do bebé, enquanto que as mães menos nutridas produzem uma quantidade suficiente. Se a mãe perder peso, por exemplo, e realizar uma ingestão alimentar insuficiente, o conteúdo do seu leite manter-se-á adequado para o correcto crescimento e desenvolvimento do bebé, respondendo às necessidades dele.

Por outro lado, parte dos mitos existentes na sociedade relacionados com a amamentação, referem que determinados alimentos, quando ingeridos pela mãe, podem ser prejudiciais para a saúde do bebé, acarretando consequências físicas para o mesmo ou causando-lhe certos desconfortos (Rubio, 2004). A OMS responde a estas questões afirmando que as alergias alimentares e os problemas intestinais do bebé causados por nutrientes que passaram da alimentação materna para o leite materno são muito raros, pelo que não justificam a restrição de qualquer tipo de alimento por parte da mãe.

Outro dos mitos muito associado ao aleitamento e à dieta materna, é que determinados alimentos podem causar um sabor desagradável no leite e o bebé pode não gostar (Rubio, 2004). No entanto, hoje sabe-se que isso representa mais uma vantagem do que uma desvantagem, estando comprovado que a variação dos sabores do leite materno vai criar uma maior aceitação da criança para este alimente e posteriormente para novos sabores que serão introduzidos na altura que começar a experimentar alimentos sólidos.

A OMS sugere ainda que, no caso de alguma mãe sentir que determinado alimento que ingeriu provocou uma reacção menos positiva no seu filho, então deverá restringir esse alimento durante uma semana e verificar se os sintomas associados desaparecem, voltando a reintroduzi-lo na semana seguinte: se os sintomas se repetirem, aí sim, será justificada a restrição desse alimento específico.

Existem formas corretas de amamentação?

As questões mais importantes que a mãe deve ter em conta quando está a dar de mamar é se está posicionada numa posição confortável, com as costas bem apoiadas, e se o bebé está também posicionado de uma forma confortável e que lhe permita realizar uma boa pega: com o queixo a tocar na região inferior da mama, a parte inferior da aréola mamária quase toda dentro da boca do bebé, a boca do bebé bem aberta com os lábios curvados para fora (em formato de “peixe”), com contacto visual mãe-bebé.
Como sabe uma mãe que o seu bebé está saciado? Quando o bebé larga a mama, relaxado.

O leite fraco é mais um mito?

Sim, como já foi referido anteriormente não existem leites fracos… Só em casos extremos de inanição é que a qualidade do leite poderá ser afectada.

Qual a importância do incentivo da amamentação?

Pelas vantagens todas que ele traz, não só físicas – crianças e adultos mais saudáveis – como também psicológicas – maior vinculação mãe-bebé – e até mesmo sociais – sem despesas económicas em leites artificiais, tetinas, biberões, e com crianças mais saudáveis existem menos faltas ao trabalho e menos dinheiro em medicamentos por doença da criança.

Os bancos de leite são importantes?

Sim, na medida que permitem oferecer um leite com uma qualidade muito superior a quaisquer leites artificiais do mercado aos bebés que não podem receber o leite de suas mães (porque têm doenças que se transmitem pelo leite, porque estão afastadas do seu bebé…)

Todas as mães têm capacidade de produzir todo o leite que o Bebé precisa?

Após o nascimento do bebé, só em algumas situações raras de doença materna é que isso não se verifica.

Como podemos identificar as mulheres que não produzem o leite necessário por algum problema de saúde?

Não é possível quantificar o leite produzido por cada mãe. Já são conhecidas algumas doenças que afetam a quantidade de leite produzido e que poderão antever esta situação. No entanto, nos restantes casos, focalizamos a nossa atenção não na quantidade de leite que a mãe produz, mas na quantidade de leite que o bebé está a receber. Sabemos hoje que um bebé está a receber leite em quantidade e qualidade adequadas se:
1. Bebé com pelo menos 1 micção nas primeiras 48h
2. Bebé que evidencia um aumento progressivo da frequência de eliminação urinária até pelo menos 5 a 6 micções diárias a partir do 3º, 4º dia
3. Bebé que tem pelo menos 5 a 6 micções e pelo menos 3 a 4 dejeções a partir do 5º dia
4. No bebé saudável e de termo, amamentado exclusivamente:
com três ou quatro meses que aumentou em média mais de 170gr por semana
com 4 a 6 meses que aumentou em média mais de 113gr por semana
com 6 a 12 meses que aumentou em média mais de 57gr por semana

Acredita que as cirurgias para a redução da mama interferem na amamentação? E a colocação de silicone?

É quase sempre possível amamentar depois de cirurgia de redução mamária, desde que a intervenção tenha conservado a ligação entre o tecido mamário e o mamilo. Quando os ductos foram seccionados durante a cirurgia, a amamentação é muito difícil ou até mesmo impossível.

Como podem continuar a amamentar depois do fim da licença de maternidade?

Se o bebé tiver menos de 6 meses de idade, as mãe podem ir removendo leite em excesso e armazenando no congelador (onde pode permanecer 3 meses), para que depois outro familiar ou mesmo as educadoras no infantário possam oferecer o seu leite ao bebé até aos 6 meses de idade. A partir daí, o bebé irá começar a experimentar os alimentos sólidos, como as sopas e as papas, pelo que o que se sugere é que a mãe deixe essas refeições para a altura em que não pode estar com o bebé e ofereça a mama nas restantes refeições. Há também a possibilidade, se a mãe trabalhar perto do local onde ficará o seu bebé, de se ausentar do trabalho por curtos períodos para o amamentar e depois regressar – é por isso que a lei portuguesa prevê uma redução de 2h diárias no horário normal de trabalho para amamentar.

E como podem aprender a realizar a retirada de seu próprio leite?

Podem fazê-lo manualmente ou com auxílio de bombas extratoras de leite materno.

A mulher que amamenta também tem algum benefício?

Para além de ter a certeza de que o seu filho ficará mais saudável e bem nutrido com o seu leite, existem também vantagens da amamentação diretamente relacionadas com o bem-estar físico da mulher: menor risco de hemorragia pós-parto, pois promove uma contração uterina mais eficaz; menor risco de cancro do ovário, mama e útero; o retorno ao peso e estado pré-gravídico é mais rápido.

Outra vantagem, de entre as inúmeras que poderia mencionar, é, de facto, o estar sempre pronto e à temperatura ideal (sem necessidade de esterilização e preparação de biberões) e a diminuição dos custos económicos das famílias, dos serviços de saúde e da sociedade em geral, ao eliminar os gastos com o leite artificial e os biberões, ao reduzir os episódios de doença das crianças e até, como consequência, ao reduzir as faltas ao trabalho dos pais…

Amamentar é responsabilidade só da mãe?

Não – a família e a sociedade têm um papel preponderante no incentivo, na promoção e no apoio do aleitamento materno. Mesmo uma mãe que possua todos os conhecimentos científicos e a certeza de que está a amamentar o seu bebé corretamente e que isso é o melhor para ele, pode vacilar e até deixar de amamentar se constantemente a família ou outros elementos da sociedade puserem em causa a qualidade e quantidade do seu leite, por exemplo.

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