A Academia Americana de Pediatria (AAP) recomenda que a todos os bebés prematuros sejam monitorizados os sinais vitais, na cadeira automóvel, antes da alta – para despiste de apneia, bradicardia ou dessaturações.
Nas cadeiras auto, o occipital proeminente de um bebé prematuro pode empurrar a cabeça para frente, principalmente durante o sono, podendo causar obstrução das vias aéreas.
Este estudo piloto investigou os efeitos fisiológicos em bebés de termo e prematuros saudáveis, colocados em cadeira auto estática a 30° e 40°, e se o veículo em movimento teve algum efeito adverso ou benéfico.
Após distribuição aleatória em um dos dois protocolos, os bebés foram submetidos a monitorização contínua durante 30 minutos, numa cadeira auto, em cada uma das três posições.
Protocolo A:
- numa superfície horizontal, a 30° (estático);
- no simulador, a 40° (estático);
- no simulador, a 40° com movimento, simulando um carro em movimento.
Protocolo B:
- no simulador, a 40° (estático);
- no simulador, a 40° (em movimento);
- numa superfície horizontal, a 30° (estático).
Cada uma dessas condições foi comparada com a linha de base – um período antes do teste, em que o bebé dormia em decúbito dorsal num berço, por um período até 90 minutos após ser alimentado.
Os dois protocolos foram elaborados de modo a determinar se as alterações fisiológicas identificadas eram mais prováveis de ser consequência de estar na cadeira auto, do ângulo da cadeira ou da presença de movimento.
40 bebés foram estudados, 21 dos quais prematuros (53%). A média da idade gestacional foi de 36 semanas, variando de 27 semanas e 5 dias a 41 semanas e 5 dias. A média do peso ao nascimento foi de 2,5 kg variando de 0,8 a 4,8 kg. A idade média no teste foi de 13 dias, variando de 1 dia após o nascimento a 65 dias.
A única diferença significativa em termos de resultado, comparando a linha de base com a posição de 30° foi um número maior de dessaturações a 30°. No entanto, bebés na posição estática de 40° e em movimento apresentaram FC e FR significativamente mais altas, SpO2 mais baixa e mais dessaturações totais, em comparação com a linha de base. Em movimento, os episódios de dessaturação <85% também foram significativamente superiores, uma média de seis episódios versus um em repouso.
Este é o primeiro estudo deste tipo que analisa a resposta cardiorrespiratória fisiológica de bebés em cadeiras auto em movimento.
A constatação de que os efeitos fisiológicos potencialmente adversos significativos foram mais frequentes quando a criança estava a 40° e em movimento do que quando a 30°, sugere que é a posição mais ereta e a adição de movimento que é responsável, e não o efeito de um prolongado período na posição sentada.
Foram testados bebés por um período máximo de 30 minutos – um período de viagem relativamente curto; no entanto, alguns tiveram dessaturações significativas (até 16) (<85% para ≥4 s) durante esse período.
Todos os bebés do estudo eram saudáveis. Acredita-se que os efeitos em bebés com doença cardiorrespiratória ou hipotonia poderão ser mais significativos. O baixo tónus muscular e o occipital proeminente de bebés prematuros podem levar à flexão do pescoço e possível obstrução das vias aéreas em cadeira auto, e isso pode ser exacerbado pelo movimento.
Este é um estudo piloto único – o primeiro a observar o efeito fisiológico da vibração ao nível cardiorrespiratório do bebé. O “Car Seat Challenge” atualmente aplicado em hospitais, não reflete o ângulo ou o movimento que acontece durante a viagem de carro com o bebé. Verificaram-se valores de frequência cardíaca e frequência respiratória significativamente aumentados e de níveis de oxigénios no sangue diminuídos quando o bebé está posicionado a 40°, com vibração associada. Surpreendentemente, essas diferenças foram semelhantes em bebés de termo e prematuros.
Os resultados do estudo sugerem que pode ser benéfico, numa viagem longa, que um adulto se sente com o bebé no banco de trás do carro ou use um espelho retrovisor para observar a posição do bebé.
As cadeiras de automóvel devem ser usadas sempre que as crianças viajam de carro,
protegendo-as de lesões no caso de paragens súbitas/acidentes.
Por outro lado, como demonstram os resultados deste estudo, as cadeiras de transporte automóvel de crianças não devem ser usadas como um ambiente rotineiro de sono.
BIBLIOGRAFIA:
Arya R, et al. Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed 2017;102:F136–F141. doi:10.1136/archdischild-2016-310730